sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A propósito da invasão da UERJ Maracanã pela Polícia Militar

Ontem, decorridos mais de dois meses do início da greve na UERJ, sem atendimento de sequer um item da pauta de reivindicações, fizemos um ato de rua. A proposta era fecharmos a Avenida Radial Oeste por algum tempo e depois seguirmos em marcha para a UERJ, onde faríamos a assembleia estudantil. Conseguimos fechar a Avenida por alguns minutos, mesmo com a intimidação da PM. Depois, seguimos em direção a UERJ. Entramos na Universidade pelo portão principal e caminhamos até a agência do Banco Bradesco, que está desativada por conta de uma obra. Quando nos preparávamos para iniciar a reunião, fomos surpreendidos pela entrada de vários veículos da PM (vans, caminhonetes S10, Blazers etc.) transportando vários policiais fortemente armados, entre os quais pelo menos uma dúzia do Batalhão de Choque.
Passados alguns momentos, o Choque lançou bombas de efeito moral e de gás lacrimogênio, gerando correria e nervosismo. Em nota, a PM divulgou que jogou a bomba para dispersar os manifestantes que estavam depredando o caixa eletrônico do banco, uma mentira deslavada. Aliás, a mentira faz parte da prática da polícia. Quando uma criança morre na favela com um tiro de fuzil, a culpa é dos bandidos; quando um jovem morre, eles dizem que era traficante que trocou tiros. Desta forma, eles escondem as barbaridades que fazem, contando, para isso, com o apoio da mídia. Ontem foi apenas mais um desses episódios.
A ação da polícia e a cobertura da mídia mostrou, mais uma vez, o papel de um e de outro. À polícia cabe reprimir violentamente qualquer um que ouse reclamar, e à mídia cabe criar o consenso em torno da “verdade” que é contada à “opinião pública”. Disso podemos extrair nossa primeira lição: não podemos confiar na mídia nem na PM, de jeito algum. Percebi que uma parte dos manifestantes, de alguma forma, nutrem confiança no órgão de repressão e na fábrica de opinião pública. Sugiro, humildemente, que reflitam sobre isso.
Nossa ação mais contundente, aliás muito necessária, teve uma violenta resposta do Estado. A tendência é piorar. Não podemos ser ingênuos. Com as transformações em curso na cidade e a aproximação dos Megaeventos, a violência do Estado vai aumentar ainda mais contra todos que constituem ameaça ao projeto de cidade em andamento. Quem ameaça? Os favelados, os grevistas, nós estudantes. Em suma, os trabalhadores ameaçam a concretização desse projeto de cidade. Por isso mesmo a repressão tende a aumentar cada vez mais sobre esses setores. Temos que nos preparar para isso. Essa é outra lição. Nossa preparação, especificamente, depende muito dos resultados dessa greve: uma greve vitoriosa representará um salto de qualidade em termos de organização; uma derrota representará um descrédito e desânimo generalizado, além da chacota de setores reacionários da Universidade. Agora, precisamos concentrar esforços em atos contundentes com muitas pessoas. Vamos sensibilizar nossos “militantes de facebook”.
Outra questão importante é investigar quem convocou e autorizou a entrada da PM. Será que foi a Reitoria? Se foi, ela não pode ficar impune. Foi a administração do banco? Em caso afirmativo, pode ter sido com o aval da Reitoria, pois o espaço ocupado pela agência pertence à Universidade, é portanto público.
Por último, gostaria de levantar outra questão. A violência da ação policial não se justifica em parte por termos ocupado um banco? Afinal, essa instituição que manda em qualquer país capitalista, seja avançado ou atrasado, é a mais sagrada das propriedades privadas.
A entrada da PM na Universidade não pode ser tolerada. Parafraseando o Companheiro Igor, se a PM quiser entrar na UERJ, que faça vestibular!



Rio de Janeiro, 24 de agosto de 2012
José Neto
Estudante da UERJ

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