quarta-feira, 7 de abril de 2010

Enxurrada de água e de descaso do Estado no Rio de Janeiro




Desde segunda-feira cai uma chuva torrencial no Rio de Janeiro e, com ela, caem casas, famílias, sonhos e esperanças. Caem também arrogâncias, fingimentos, máscaras. Segundo a Defesa Civil o nº de mortos chega a 110 e provavelmente aumentará por conta dos desaparecidos. São muitos desabrigados, desalojados, ilhados; vários bairros ficaram embaixo d’água; trabalhadores que não conseguiram voltar para casa na segunda-feira dormiram nos ônibus, nas ruas, no trabalho e os que tinham mais dinheiro pernoitaram em hotéis. Na terça-feira, escolas, universidades, prédios públicos e empresas não abriram as portas; o transporte, que já é precário, colapsou; ônibus não conseguiam transitar, o metrô continuou a circular, todavia com atrasos, várias estações de trem estão fechadas e vários vôos estão atrasados ou foram cancelados.

Diante dessa situação catastrófica, cabe-nos perguntar o motivo de o Rio de Janeiro ter se comportado tão mal frente à chuva e podemos perceber basicamente duas opiniões distintas:

1) O primeiro grupo é o dos conservadores, que colocam a culpa no excesso de chuva, no acúmulo de lixo, que impedem o escoamento da água, e nas pessoas que constroem suas casas precariamente em áreas de risco.

2) O segundo grupo diz que a culpa é do Estado.

Vale, pois, analisar as duas proposições, a fim de tirar algumas conclusões.

A primeira sentença é enganosa, visto que a água e o lixo não podem ser apontados como causa e, antes de culpar as pessoas que constroem casas em áreas de risco, como se fossem loucas, é preciso saber por que levantam suas casas em tais locais e não em outros “mais seguros”. A segunda sentença é verdadeira e portanto merece maior atenção.

Uma das características mais marcantes do subdesenvolvimento é a urbanização caótica, e como o Rio de Janeiro faz parte do Brasil, que é um país subdesenvolvido, não foge a essa lógica. A favelização foi e é intensa, ocasionada por diversos fatores, entre os quais: falta de política pública concreta de habitação, desemprego, informalidade, especulação imobiliária e concentração fundiária no campo. Atrelado a favelização existe a ineficiente e insuficiente ampliação e melhoria da infra-estrutura, como o sistema de drenagem. E, na confluência desses fatores com a grande quantidade de chuva, o resultado não poderia ser outro, senão o descrito acima. Se o Estado fizesse minimamente o seu papel, a situação hoje seria outra.