segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Meu primeiro ano na UERJ



Em 2008 ingressei no cursinho pré-vestibular com o romântico objetivo de conquistar uma vaga na Universidade “pública”. Após dois anos, finalmente consegui realizar o tão sonhado objetivo. Agora, ao fim do meu primeiro ano na Academia, é legítimo fazer um balanço.

A palavra decepção talvez seja a que melhor defina meu sentimento; decepção com a organização do curso de Geografia especificamente e com a Universidade em geral; decepção com os professores...

Sobre o curso de Geografia...

Ao longo deste ano percebi algumas coisas escabrosas. O curso parece estar entregue às moscas, se fosse um balde d’água acho que daria dengue de tão parado e monótono, as discussões são parcas; a única discussão que deu uma agitada foi a referente a reestruturação curricular que a direção do instituto quer e está levando a cabo (ao que tudo indica, a reestruturação visa adequar melhor o currículo às necessidades do exigente mercado); faltam verbas para trabalho de campo; banheiros em péssimas condições; carroças nos lugares dos computadores no laboratório; ar-condicionado pifado etc etc etc...

Mas essas coisas que citei são futilidades perto de outras, como a terceirização dos docentes e pessoal administrativo e a certa inutilidade do curso. A terceirização já não é novidade e avança a passos largos na Universidade, pois reduz custos com mão-de-obra, o que gera vários problemas, como precarização das condições de trabalho. Sobre a certa inutilidade do curso, não digo que seja um peso morto, algo que deva ser extinto, não se trata disso. Digo que é inútil para aqueles que mais necessitam se apropriar dos conhecimentos produzidos na Universidade, o povo, em especial aqueles que moram próximo. Entretanto, a relação do curso não é com a população vizinha, mas sim com empresas que ficam sei lá onde e cujos interesses conhecemos bem.

Sobre os professores...

São, em geral, reacionários. Ficam empoleirados nos seus diplomas de doutores, achando que são os maiorais... doce ilusão. Também é evidente a má vontade que têm em ministrar aulas para alunos de graduação; segundo um dos professores (não reacionário), os docentes não gostam de dar aulas para a graduação porque conta pouco ponto na espécie de ranking acadêmico, é melhor ensinar alunos de pós-graduação... se for doutorado então, nem se fala.

Sobre a Universidade...

O contexto relatado é, obviamente, parte de uma história maior, se insere no contexto universitário e, em última análise, é parte indissociável da educação brasileira como um todo. Mas o que me interessa aqui é o contexto da minha Universidade. Em linhas gerais, os problemas do meu curso são os problemas dos demais cursos, com raras exceções.

O governo do Estado destina uma verba irrisória para a Universidade, e a cada ano diminui, descumprindo a Constituição Estadual. E olha que o Reitor é amiguinho do governador! Logo, vai pouco dinheiro para os cursos, com exceção de algumas vedetes (Direito, Medicina, Geologia...) que recebem mais dinheiro, inclusive de empresas privadas interessadas em patrocinar projetos de pesquisa ou com outros objetivos escusos. Os cursos como Matemática e Pedagogia, por exemplo, que não despertam a sanha de empresas, sequer têm ar-condicionado nas salas (para ser justo, uma ou outra sala tem ar). Mas isso não é o mais grave.

Na verdade, o que acho importante relatar aqui são minhas impressões sobre o papel da Universidade, que em nada tem a ver com aqueles princípios que muitos de nós sonhamos e que os professores Paulo e Darcy também vislumbraram. A educação a cada dia é colocada mais no mercado, como ocorre com tudo mais que potencialmente possa ser vendido. O ensino público é depredado em proveito do ensino particular e a Universidade se transforma mais e mais em fábrica de mão-de-obra “qualificada”. E é aqui que gostaria de chegar.

O que mais me indignou na UERJ é essa condição de produtora de mão-de-obra para o mercado. O atendimento ao mercado implica o não atendimento à população que sustenta a Universidade, mas que não colhe os frutos. Outra implicação importante dessa situação é a disparidade existente entre os cursos; enquanto alguns (Direito, Geologia etc.) recebem mais verbas, pois são mais interessantes para o mercado, outros (a maioria) são largados quase a própria sorte, como relatei acima.

E mesmo com todos esses problemas que compartilho com vocês, a Universidade cinicamente criou um programa chamado “UERJ sem muros”. O programa consiste em “abrir” a Universidade ao público, aproximá-la da comunidade circunvizinha durante alguns dias do ano. Ora, a Universidade deve ser sem muros durante todo o tempo e não apenas durante alguns dias escolhidos no ano. Mas para que a Universidade derrube seus muros e se integre à comunidade, é preciso que mude o seu papel, o que infelizmente parece estar longe de acontecer.

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